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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Reality Show - Tribo dos carentes patológicos

Triste o mundo onde não ser famoso é não significar, não existir.

Toda vez que um novo reality show começa, me compadeço— ao mesmo tempo que não consigo frear meu desdém— por essas pessoas esvaziadas de relevância intrínseca (aquela que nenhuma capa de revista dá e nenhuma nova leva de bundas perfeitas tira, apenas está lá como estão os ossos). Pessoas que cresceram num universo deturpado no qual “ser alguém” é agir com a estupidez de um adolescente rebelde, ter assessor de imprensa e seguranças; no qual a auto-estima é atrelada à quantidade de notícias irrelevantes à seu respeito. Pessoas que morreriam de depressão na ausência de uma platéia: por serem áridas como o sertão, nada nasce delas; precisam do outro para alimentar sua alma como um filhote de passarinho precisa das minhocas trazidas pela mãe.

Às vezes me sinto um ser transgênico por continuar achando que fama deveria ser decorrência de um trabalho bem feito, talento, importância real. Fama— ou seu antecessor, o sucesso— é reflexo de algo e não o espelho em si.

De onde vem esse vazio existencial incomensurável que faz tanta gente precisar da validação alheia para que sua própria vida tenha sentido? Não é só um atalho cheio de flashes para o cintilante baú do dinheiro— muito mais do que grana, esses seres precisam, com desespero, ser notados. São a versão humana de cachorros carentes, constantemente dispostos a fazer o que dono mandar se o prêmio for uma nesga de atenção.

Nunca existiu tanta gente ensimesmada e vazia. Porém o mais assustador é que nunca existiu uma audiência tão grande e tão fiel, que preenche suas noites modorrentas e ocas assistindo a avatares de si mesmos interpretarem porcamente histórias ridiculamente não-verdadeiras.

Triste o mundo onde pessoais reais— que choram, contam piada, estudam, lêem, têm medo da morte e olham pra você e não através de você— deixaram de importar.

por Ailin Aleixo

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