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quarta-feira, 27 de junho de 2012

Violência com palavras na sala de aula prejudica o aprendizado


Reportagem Camila Scarpi
Edição Rodrigo Batista
CAMILA SCARPI 
Violência verbal por parte de mestres e estudantes são comuns nas escolas brasileiras
A indisciplina nas salas de aula, a falta de respeito e a violência (verbal e física) são preocupações constantes em algumas escolas públicas. Não só entre os estudantes, mas também entre eles e os professores. De um lado, adolescentes que não respeitam a hierarquia da escola; de outro, mestres que abusam da sua posição para mostrarem-se superiores. Esse conflito desgasta o convívio escolar, torna a aprendizagem complicada e faz cair a qualidade que ainda resta em algumas instituições públicas.

O maior caso de reclamações de desrespeito em salas de aula nas instituições públicas está ligado à relação professor/aluno. Helena Cordeiro dos Santos, professora de geografia do Colégio Municipal Papa João XXIII, conta que alguns alunos procuram medir forças com o professor por uma questão de afirmação ou aceitação no grupo. Para ela, esses problemas de relacionamento não são culpa somente da família. “Acho que é uma mistura de tudo: família, amigos, ambiente escolar.” A professora afirma que a profissão se torna sofrida com as constantes agressões. “Todo mundo tem vontade de se aposentar, é muito desgastante. Se na primeira aula você já escuta um desaforo, desanima para o resto do dia”.

Para o psicólogo e mestre em educação Josafá Moreira da Cunha, o ambiente escolar é fator fundamental para formar o caráter do aluno. O especialista afirma que muitas escolas tentam isentar-se dessa culpa e negam que seja problema delas a falta de disciplina do aluno em classe. “Não adianta culpar só a família, pois as relações fora de casa influenciam nas atitudes do adolescente”.

Já a coordenadora pedagógica do Colégio Estadual Barão do Rio Branco, Eliane Ovelar, acredita que a escola tem que intervir para tentar superar a agressividade dos alunos ou futuras complicações com professores. “A violência varia de escola para escola, mas não podemos esperar o delito para tomarmos alguma atitude”. Contudo, a coordenadora afirma que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) dá uma proteção exacerbada ao aluno, o que pode deixar os professores e diretores sem saídas para algumas situações de violência interpessoal em sala de aula.

A Secretaria de Educação do Paraná tem programas de enfrentamento à violência nas escolas, mas os projetos não incluem pesquisas sobre violência verbal e psicológica. As estatísticas baseiam-se no número de ocorrências registradas pela Patrulha Escolar, grupo especial da Polícia Militar que cuida de casos de infrações em ambientes escolares. Para Eliane, não se deve esperar ajuda quanto a projetos de acompanhamento psicológico – tanto para alunos quanto para professores – por parte do Estado. “Deve-se agir por conta. Algumas orientações até são válidas, mas na prática é diferente.”

Quando a agressão parte dos mestres

Josafá aponta que, em alguns casos, a agressão pode partir do próprio professor – e estimular a violência em crianças e adolescentes. “O simples fato de ser irônico com algum aluno pode ser caracterizado como desrespeito”. A professora Helena admite que alguns professores desrespeitam os alunos, o que torna preocupante a formação dos estudantes na escola. “Isso pode parecer, para o aluno, que o contrário também seja possível”.

João Gustavo Hass é estudante do terceiro ano do ensino médio. Ele conta que um dos maiores problemas de sua classe é o desrespeito por parte de quem deveria ensinar. “Os professores agem de uma forma muito agressiva ao responder aos alunos. Tem acontecido muita briga por causa de discussão entre alunos e professores”. O estudante conta que as humilhações são freqüentes e que os mestres, ao invés de instruir, preferem apontar os erros do aluno perante a classe. Contudo, o estudante tem uma visão crítica do fato e também admite a parcela de culpa dos alunos nas agressões. “Alunos e professores ficam de ‘saco cheio’ com essa falta de respeito. Sobra pra quem precisa estudar”.

Perseguição entre alunos

Problemas de relacionamento e falta de respeito não giram, contudo, só no âmbito professor/aluno. As relações entre os próprios estudantes são conflituosas e violentas. Em alguns aspectos, as agressões verbais são chamadas de Bulling – nome característico referente às perseguições a alguns alunos por aparência, raça, etnia, entre outros aspectos. O psicólogo Josafá alerta para as peculiaridades dos alunos que perseguem seus colegas. “Geralmente são pessoas inseguras, que se filiam a um bando e perseguem alguém para se auto-afirmarem”.

Em uma pesquisa feita pelo especialista, constatou-se que os transtornos psicológicos estão relacionados aos estudantes mais agressivos. Dentre os 850 alunos entrevistados em quatro estados brasileiros (PR, MG, GO e PI), o maior índice de depressão encontrava-se naqueles que cometiam a agressão (11%), e não nos que sofriam humilhações (6,6%). Josafá explica que este comportamento se deve a um histórico psicológico e de comportamento já deturpado do agressor, como problemas de família ou de autoconfiança. “É uma situação que desencadeia mais facilmente síndromes como a depressão e outros problemas comportamentais”.

Mundos nem tão diferentes

Quando se fala em violência nas escolas, o pensamento logo encontra apoio em escolas públicas. Não são raros os registros que confirmam os altos índices de violência em instituições de ensino público – o que não elimina do quadro escolas particulares.

Carolina Comel, estudante do primeiro ano do ensino médio confirma o fato. A falta de respeito entre alunos e professores existe também em colégios particulares, mesmo que não seja evidente. “Acontecem bastantes brincadeiras entre os professores e alunos, mas às vezes algumas ficam chatas”. Carolina afirma que a questão é mais nítida na relação entre os alunos. “Nos colégios particulares têm muito disso, de ficar tirando um com a cara do outro. Eu acho que deveria ter mais respeito, ninguém é perfeito e quem faz isso (perseguições a colegas) não pensa o quanto pode prejudicar”.

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