*Publicado em agosto 11, 2010 por HC
Hoje o trabalho do professor é muito estressante, muito estressante: meu
sofrimento é o meu trabalho. É com esta frase, proferida por uma professora
do Ensino Fundamental de João Pessoa, que a psicóloga Jaqueline Brito,
começa a sua tese em saúde pública Síndrome de Burnout em professores do
Ensino Fundamental: um problema de saúde pública não percebido.
Desenvolvido na Fiocruz Pernambuco, o estudo trata desta forma de
adoecimento que vem acometendo os docentes da rede pública de ensino da
capital da Paraíba, mas que certamente pode ser estendida a muitos outros
professores no país. O estudo verificou que 23,4% dos professores do nível
Fundamental apresentaram alto nível de despersonalização, 55,5 % alto nível
de exaustão emocional e 85,7% alto nível de realização pessoal no trabalho.
Este último percentual, embora pareça contraditório é na verdade uma
característica da Síndrome. As pessoas não atribuem ao trabalho a razão da
sua estafa física e emocional.
Jaqueline explica que burnout é um termo resultante de uma composição da
língua inglesa: burn, que significa queima, e out, que significa exterior e
diz respeito à pessoa que, devido a esse tipo de estresse ligado a atividade
profissional, geralmente “pessoas que trabalham com pessoas” – consome-se
física e emocionalmente. Três dimensões caracterizam bem a síndrome de
burnout: uma é a exaustão emocional. Falta à pessoa energia e entusiasmo
para desenvolver o seu trabalho, o seu sentimento é de esgotamento. “Um
sintoma comum nesta fase é certo temor em voltar ao trabalho no dia
seguinte”, explica Jaqueline.
Outra dimensão da síndrome é a despersonalização. Nela, o profissional passa
a tratar os alunos, colegas e a escola de forma distante e impessoal, seu
vínculo afetivo é substituído por um vínculo racional. “Estas pessoas são
vistas pelos colegas de trabalho como uma pessoa fria, desumana devido ao
seu endurecimento afetivo”, diz a pesquisadora. A terceira dimensão da
síndrome é a baixa realização no trabalho. Nesta fase o trabalhador costuma
se auto-avaliar de forma negativa, não fica satisfeito com seu
desenvolvimento profissional e experimenta um sentimento de incompetência e
fracasso.
Segundo a psicóloga, o quadro apresentado na pesquisa se deve a fatores
sociais, ambientais e pessoais, sempre relacionados ao trabalho. O que pode
ser feito para reverter a situação é considerar os aspectos da realidade do
professor, que inclui, por exemplo, gestores, alunos, família dos alunos,
família dos professores e colegas de trabalho. Também é possível desenvolver
medidas com o objetivo de minimizar as consequências das inadequações de
conforto ambiental das salas de aula na saúde dos professores, além de
construir um serviço multidisciplinar de atenção à saúde do professor, com
metodologia de trabalho e ausculta individual e coletiva, que promova a
proteção e a recuperação da saúde dos professores. Outra ação é incluir a
participação dos professores em programas de combate ao stress, entre
outros.
Para o estudo sobre a ocorrência da Síndrome de Burnout entre os professores
paraibanos, a pesquisadora avaliou uma amostra de 265 docentes – de um
universo de 959 – que ensinam na primeira fase do ensino fundamental, nos
polos que compõem as três Regiões da Secretaria de Educação de João Pessoa.
Os docentes selecionados atuam em 18 escolas, que foram escolhidas por
sorteio.
A maioria dos entrevistados é do sexo feminino (90,9%), com idade média de
43 anos e meio e com mais de 10 anos de atuação no magistério. A maioria
(72,5%) tem nível de escolaridade superior e 67,6% trabalha 40 horas
semanais ou mais. No estudo, foram considerados aspectos relacionados à
saúde mental dos professores, diferenças de gênero na categoria docente e
conforto ambiental da sala de aula, por meio de uma triangulação de métodos.
Médicos do trabalho desconhecem a doença
Desde 1999 a Síndrome de Burnout consta na legislação trabalhista brasileira
como uma doença do trabalho. No entanto, Jaqueline Brito demonstra em sua
tese que é grande o desconhecimento por parte dos médicos peritos que hoje
atuam na Junta Médica de João Pessoa. Setenta e cinco por cento desses
profissionais disseram não conhecer a Síndrome de Burnout nem a portaria que
a inclui como doença do trabalho. Nenhum perito recebeu treinamento para
lidar com a doença em sua prática profissional, nem tampouco afastou algum
professor do seu trabalho em decorrência da doença.
Reportagem de Rita Vasconcelos, da Agência Fiocruz de Notícias, publicada
pelo EcoDebate, 11/08/2010
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